Sobre monstros e seres humanos
Por Douglas Santarelli
Ultimamente tenho refletido a respeito do que leva as pessoas a considerarem outras que praticam crimes hediondos, que banalizam e coisificam a violência, como monstros. Acredito que possamos achar a resposta, em parte, no fato de que quando identifico o outro como monstro, acabo me distanciando dele e o desumanizando para que eu como ser humano fique livre da suspeita de que posso acabar cometendo as mesmas atrocidades que este ex-humano!
Casos como os dos Nardoni, dos assassinos do menino João Hélio, Suzane Richtonfen causam comoção nacional e dificilmente as pessoas irão perdoar tais atrocidades cometidas, por isso as declarações contundentes logo começam: "Eles não são gente, são monstros!" "Só monstro é capaz de tanta maldade!"
A própria sociedade se encarrega de julgar esses indivíduos ao fazerem com que eles passem pelo processo de desumanização. Muito antes de tribunais ou da própria história condená-los; a sociedade se encarrega de roubar-lhes o direito inalienável de pertencer à raça humana, e por que? Por que se ele continuar a pertencer à categoria dos humanos teremos que assumir que somos tão capazes quanto eles de cometer o mesmo nível de mal e perversidade; teremos que assumir que as bases filosóficas e ideológicas sobre as quais a atual sociedade está construída são falhas e que o humanismo que defende tão arduamente a centralidade do homem e sua bondade estão equivocados.
É mais fácil então declarar que "Somos diferentes deles, não temos nada a ver com esses monstros párias". No entanto, é bom lembrar que Hitler (acusado de matar mais de 7 milhões de pessoas, e não eram só judeus como a mídia tanto enfoca), Mao-Tse-Tung (acusado pela morte de mais de 70 milhões de chineses, incluindo sua mãe que ele mandou abrir por curiosidade) já foram crianças, gostaram de coisas como as que gostamos: boa música, arte, diversão; tinham expectativas e sonhos como só um ser humano pode ter. Por isso cada vez que me examino e observo outros seres humanos mais convencido fico que só humanos, capazes das coisas mais sublimes, conseguem cometer os maiores atos de barbárie!
Otimo Post! Gosti de mais, adoraria estar nessa aula ou fazerr parte desse momento de discussão. Ao ler me lembrei muito da obra de Hannah Arendt, filosofa, que debate em sua obra A condição humana, alguns aspectos interessantes que endossam essa discussão.
ResponderExcluirfortes abracos
Professor mandou muito bem!!!
ResponderExcluirQuando paro para refletir sobre o ser humano que sou, confesso que muitas coisas me assusta.
O que me faz manter meus pensamentos e ideologias é a convicção que posso ser alguém melhor.
Um abraço!!!
É verdade, eu ainda não tinha pensado nisso!
ResponderExcluirTomara que eu não chegue ao ponto em que eles chegaram.. não quero ser chamada de monstro, mas sei que sou capaz de fazer o que eles fizeram.
Fui
Excelente texto. Parabéns. Vamos pensar...concordo com o Marcelo a respeito de Hannah e a banalidade do mal.
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